Sempre ouvi diferentes experiências sobre essa situação, uns dizem que dói (e muito!), outros afirmam que não sentiram nada nem durante, nem depois. É sempre assim, não se pode medir dor através de depoimentos alheios. O engraçado é que ninguém nunca havia comentado sobre a quantidade de sangue envolvida no procedimento.
Lá estava eu praticamente deitada, cravando minhas mãos no encosto. Ele pergunta se tudo está bem, se estou sentindo alguma dor. Eu respondo que não e tento me concentrar no teto verde água. Com uma mão ele segura minha cabeça, com a outra faz força. Sinto-me meio tonta, com vontade de chorar, mesmo sem sentir dor.
Durante aquela uma hora e meia, ele tenta me acalmar descrevendo o que está fazendo, “a metade já foi”, “agora falta pouco”, “não se preocupe com o barulho”. O teto já não está me ajudando, então olho bem no fundo dos olhos azuis dele e penso que olhos tão bondosos não podem me machucar, eu o conheço há muito tempo e tenho plena confiança nele, mas não posso deixar de me preocupar toda vez que ouso um “plec”.
Quando tudo finalmente termina me surpreendo com o tamanho dele, sim aquilo estava dentro de mim. Aquele dente gigante, que tantas vezes me fez passar noites em claro com dor, que infeccionou e me impediu de comer tantas coisas. A assistente do dentista pergunta se quero levá-lo, eu fico pensando o que farei com meu ciso esquerdo (fora da boca), mas acabo levando para casa dentro de uma pequena caixa de plástico. Ele é um pequeno troféu, a prova de que um dia, eu tive juízo.
Jéssica Feller
que tem bolas de algodão na boca