Eu sinto que passei metade da
minha vida me justificando. A outra metade eu estava tentando entender o motivo
de ser como sou, uma pessoa que precisa de justificativa. Acontece que nem
sempre meu jeito peculiar é compreendido, minhas piadas são levadas a sério,
minhas histórias são interpretadas de formas erradas por falta de contexto, e
quando (finalmente) paro de falar, percebo tem alguém na ponta da mesa me
olhando como se eu fosse uma extraterrestre.
E embora esse olhar seja bem
recorrente eu ainda não acostumei com ele, com cada um deles me sinto
constrangida e inapropriada, e ai das duas uma: eu me fecho; disparo em uma
diarreia verbal tentando explicar que na verdade eu sou uma pessoa normal,
legal, boa, que vai à missa, faz caridade, ama sua família, que nunca roubou um
carro, nem fugiu de casa, etc.
A vida tem dessas, há pessoas que
te entendem de primeira, tem pessoas que você acha que te entenderam, mas
depois descobre que elas acham que você é uma alcoólatra funcional que gosta de
queimar coisas por prazer (não, eu não sou piromaníaca e minha única história
que inclui fogo é aquela em que queimei meus cabelos no fogão de uma amiga –
falando assim entendo o motivo de alguns olhares, tem todo um contexto gente!).
Acontece que depois de um tempo
cansa viver se justificando, então das duas uma, ou eu aprendo a ficar de boca
fechada ou eu paro de me importar com os olhares julgadores. Também posso
desenvolver uma cartilha explicando algumas coisas, contando os principais
momentos da minha vida (aqueles que fundamentalmente me fizeram ser do jeito
que sou), mas isso pode tirar a graça da minha biografia não autorizada (que eu
mesma escreverei). Enquanto minhas múltiplas personalidades não entram em acordo
sobre como agir diante desse dilema, sigo em frente desviando dos olhares
estranhos, um de cada vez.
Jéssica M. Feller
Que jura juradinho que é mais
normal do que aparenta