sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Justificando

Eu sinto que passei metade da minha vida me justificando. A outra metade eu estava tentando entender o motivo de ser como sou, uma pessoa que precisa de justificativa. Acontece que nem sempre meu jeito peculiar é compreendido, minhas piadas são levadas a sério, minhas histórias são interpretadas de formas erradas por falta de contexto, e quando (finalmente) paro de falar, percebo tem alguém na ponta da mesa me olhando como se eu fosse uma extraterrestre.

E embora esse olhar seja bem recorrente eu ainda não acostumei com ele, com cada um deles me sinto constrangida e inapropriada, e ai das duas uma: eu me fecho; disparo em uma diarreia verbal tentando explicar que na verdade eu sou uma pessoa normal, legal, boa, que vai à missa, faz caridade, ama sua família, que nunca roubou um carro, nem fugiu de casa, etc.

A vida tem dessas, há pessoas que te entendem de primeira, tem pessoas que você acha que te entenderam, mas depois descobre que elas acham que você é uma alcoólatra funcional que gosta de queimar coisas por prazer (não, eu não sou piromaníaca e minha única história que inclui fogo é aquela em que queimei meus cabelos no fogão de uma amiga – falando assim entendo o motivo de alguns olhares, tem todo um contexto gente!).

Acontece que depois de um tempo cansa viver se justificando, então das duas uma, ou eu aprendo a ficar de boca fechada ou eu paro de me importar com os olhares julgadores. Também posso desenvolver uma cartilha explicando algumas coisas, contando os principais momentos da minha vida (aqueles que fundamentalmente me fizeram ser do jeito que sou), mas isso pode tirar a graça da minha biografia não autorizada (que eu mesma escreverei). Enquanto minhas múltiplas personalidades não entram em acordo sobre como agir diante desse dilema, sigo em frente desviando dos olhares estranhos, um de cada vez.



Jéssica M. Feller

Que jura juradinho que é mais normal do que aparenta