sábado, 24 de maio de 2008

A concorrência

Ultimamente eu tenho pensando muito sobre a concorrência. Depois dos movimentos feministas e da revolução sexual, algumas mulheres se acharam no direito de desrespeitar o Código de Ética Feminino (C.E.F). Elas estão por toda a parte, são as garotas que não se importam em trabalhar 12 horas e ganhar por 6, que estão sempre depiladas e dispostas a engolir qualquer coisa.

Meus amigos homens já haviam tentando me avisar, a concorrência aumenta conforme os anos passam e cada vez mais elas iniciam na vida mais cedo. Mas eu e minha enorme confiança na próxima e no C.E.F me neguei a acreditar. Foi aí que me encontrei diante da concorrência.

É verdade que uma competição saudável pode ser o impulso que estava faltando para você fazer aquele curso, entrar na academia ou aprender outra língua. Mas em momento algum nós mulheres devemos nos sentir acuadas. Parece que cada vez que você faz uma exigência, aparecem outras tantas que estão mais do que felizes em fazer o que você acha que não deveria.

Seja no trabalho, nos estudos ou nos relacionamentos amorosos, a concorrência é desleal e não descansa. Em um momento como esse eu não posso deixar de pensar, será que devo afastar minha tênue linha ética alguns centímetros? Ou se algo parece ser tão desconfortável e injusto, simplesmente não vale à pena?

Sinto que é meu dever como futura jornalista, mulher, blogueira e ex-trocada-por-uma-vaca, bater meu pé e dizer por uma vez por todas: EU NÃO VOU FAZER ISSO. E se isso significa batalhar mais pelo emprego e o homem dos meus sonhos, pouco importa. Por que agora eu farei as coisas do meu jeito. A concorrência que me aguarde.

Jéssica Feller
que daqui por diante não fará mais concessões

sábado, 17 de maio de 2008

O Josué que não estava lá

Josué da Silva era um homem tão magro que há tempos ninguém o via. Sabiam que acordava cedo, antes mesmo do sol nascer e só voltava muito depois dele se pôr. Pai de cinco filhos batizados com a inicial “J”, em sua homenagem, era crente a Deus, mas há anos não pisava em uma igreja. Achava que suas vestes simples não combinavam com a casa do Pai.

De quatro em quatro anos trocava a dentadura, mesmo sem ver uma maçã desde que era criança. Achava uma troca justa e por algumas semanas passeava pela rua sorrindo. Penteava os cabelos que lhe restava com um pente que guardava no bolso, combinava as meias com o lenço, mesmo que ninguém reparasse sua figura. Fazia o mesmo caminho todos os dias e gostava de ouvir músicas em seu rádio à pilha enquanto se preparava para o trabalho.

Era um homem de poucas alegrias, mas nunca reclamava da vida por achar que as coisas deveriam ser assim para todos os outros. Assinava com o polegar a folha de pagamento de todos os meses. Trabalhou trinta anos na mesma fábrica e só quando foi demitido percebeu que seu chefe o chamava de João.
Morreu sem ser velado, acreditando que o mundo acabava nos limites na cidade, que o mar era invenção de andarilhos bêbados e que seus filhos eram o futuro da nação. Só deixou saudades na sua família, que depois de sua morte falavam mais com ele do que em vida.

Assim era o grande Josué da Silva que nunca deixou de ouvir um jogo da seleção, que achava graça daqueles que queriam ir para a cidade grande e nunca conheceu seu pai. Deixou para trás doze netos que por anos achavam que o avô estava escondido, de lado, em algum lugar.

domingo, 11 de maio de 2008

e se...

Os porcos torcessem os rabos, as vacas tossissem, o dia de São Nunca chegasse?
E se um jacaré entrar no céu, se achassem uma agulha no palheiro e se o inferno congelasse?
E se fosse tudo menos complicado, se o relógio não estivesse sempre atrasado, se eu não fosse tão medrosa.
Se a chuva parasse e você me enxergasse...