terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

De cabeça

Quando se está solteira (o) por muito tempo você acaba desenvolvendo hábitos (e manias) que aos olhos do outro (a) podem parecer (no mínimo) estranhos. Você deixa de sair no sábado apenas para ficar em casa vendo filmes antigos sem ter que se pentear ou tirar seu pijama, você passa suas tardes de domingo lendo na varanda e escreve textos às 4 da manhã.

Relacionamentos são coisas assustadoras, é preciso se comprometer, doar, ceder, deixar outra pessoa entrar em sua vida e mudar absolutamente tudo de lugar. Depois passar por tantos relacionamentos desastrosos, que só te deixam mais gordinha (o) e com menos paciência para “flertar”, como você consegue voltar ao jogo?

Parece loucura se arriscar novamente e botar nas mãos de outra pessoa o que você demorou tanto tempo para construir e concertar. Será que é justo que agora que as paredes estão pintadas, os quadros pendurados e as cortinas no lugar, alguém entre e te faça perder os sentidos novamente?

Quando falamos de paixão nos referimos apenas aos beijos demorados, as borboletas no estomago, as risadas exageradas e as conversas pelo telefone que duram horas. É como se bloqueássemos o fato de que já fomos magoados e existe uma grande possibilidade de acontecer novamente. É possível se jogar de cabeça em uma relação, mesmo sabendo da possível falta de rede de proteção?

Depois de quatro anos solteira eu finalmente estou pronta para um recomeço, e mesmo que as cicatrizes ainda sejam visíveis elas não doem mais. Essa é a grande magia da vida, você pode recomeçar a hora que quiser, basta estar disposto e aberto para o que as pessoas têm a lhe oferecer.

Jéssica Feller
que acredita muito em seu próximo relacionamento, mesmo sem ter alguém em vista

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Juízes

“Com a mesma ferocidade que ora julgas, outrora serás julgado”

Esse sempre foi um dos meus mantras pessoais, uma tentativa (nem sempre bem sucedida) de lembrar que não cabe a mim julgar ações alheias. Nos últimos dias eu estive refletindo sobre os “juízes” em nossas vidas e não posso deixar de pensar que não há juiz tão implacável quanto nós mesmos.

A capacidade de perdão e compreensão dos seres humanos se restringe a terceiros e em muitas situações o mais difícil é perdoarmos a nós mesmos. Como calar a voz interior que há todo o momento nos lembra de nossas falhas? Das palavras que nunca deveriam ser ditas, das lágrimas que caíram involuntariamente, da quebra de promessas, da fraqueza que nos faz sucumbir às tentações.

Se reconhecemos nossos erros e pedimos desculpas às pessoas que amamos (e até mesmo às que detestamos), o que é preciso para sermos dignos do nosso perdão? Será que o conceito de absolvição está sempre atrelado à punição? E se precisamos ser punidos, será que o arrependimento e as horas não dormidas não são o bastante?

Jéssica Feller
que não consegue "baixar o martelo"

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Parte II


É difícil descrever a sensação de conhecer pela primeira vez os membros da sua família. Passei toda minha vida ouvindo estórias sobre os irmãos e irmãs de meus avós, sobre seus filhos e netos, mas a verdade é que nunca havia imaginado suas vozes, feições, risadas.

Talvez o sangue seja uma ligação que vá além da nossa compreensão, pois já no primeiro abraço me senti acolhida, parte daquela numerosa família que até então era desconhecida por mim. É estranho pensar que durante vinte anos convivi com apenas um terço dos meus parentes e que embora eu os desconhecesse, eles conheciam a mim.

Pude conhecer o porto onde meu avô trabalhou durante sua adolescência, subir o morro até a Curra (um pequeno vilarejo bem próximo de Quilmas) e ver a casa onde minha avó nasceu, me sentar à frente da lareira com a tia Maria (mulher do tio Zeferino) comendo deliciosas bolachas e ouvir histórias incríveis sobre o mar narradas pelo tio Santiago.

Sem as “obrigações turísticas”, pudemos aproveitar durante uma semana o frio do inverno espanhol enquanto nos fartávamos de vinho e boas conversas. Na hora de ir embora o coração batia em um compasso de felicidade e saudades, enquanto a garganta dava um nó que até hoje não desapareceu.
(Continua)

Jéssica Feller
que mal pode esperar para voltar para a Espanha

Para entender melhor:
A viagem
Parte I