terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Um brinde

Enquanto bebíamos champagne, eu e três amigos conversamos sobre relacionamentos e o quão difíceis podem ser.
Apesar de enfrentarmos momentos tão difíceis saímos quase ilesos ao que antes parecia ser a maior catástrofe de nossas vidas. Pergunto se há uma lição a ser aprendida com isso, em meio a um gole, a pequena loira a minha esquerda opina:
“Se algum dia fui pobre não me lembro, e rasguei todas as fotos.”

Talvez seja assim com todas as coisas da vida



Jéssica Feller
que só bebe champagne socialmente

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Perdendo o juízo

Sempre ouvi diferentes experiências sobre essa situação, uns dizem que dói (e muito!), outros afirmam que não sentiram nada nem durante, nem depois. É sempre assim, não se pode medir dor através de depoimentos alheios. O engraçado é que ninguém nunca havia comentado sobre a quantidade de sangue envolvida no procedimento.

Lá estava eu praticamente deitada, cravando minhas mãos no encosto. Ele pergunta se tudo está bem, se estou sentindo alguma dor. Eu respondo que não e tento me concentrar no teto verde água. Com uma mão ele segura minha cabeça, com a outra faz força. Sinto-me meio tonta, com vontade de chorar, mesmo sem sentir dor.

Durante aquela uma hora e meia, ele tenta me acalmar descrevendo o que está fazendo, “a metade já foi”, “agora falta pouco”, “não se preocupe com o barulho”. O teto já não está me ajudando, então olho bem no fundo dos olhos azuis dele e penso que olhos tão bondosos não podem me machucar, eu o conheço há muito tempo e tenho plena confiança nele, mas não posso deixar de me preocupar toda vez que ouso um “plec”.

Quando tudo finalmente termina me surpreendo com o tamanho dele, sim aquilo estava dentro de mim. Aquele dente gigante, que tantas vezes me fez passar noites em claro com dor, que infeccionou e me impediu de comer tantas coisas. A assistente do dentista pergunta se quero levá-lo, eu fico pensando o que farei com meu ciso esquerdo (fora da boca), mas acabo levando para casa dentro de uma pequena caixa de plástico. Ele é um pequeno troféu, a prova de que um dia, eu tive juízo.

Jéssica Feller
que tem bolas de algodão na boca

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Parte I

O extravio de malas no aeroporto de Portugal marca o inicio de nossa viajem. Após cinco horas de muito berro, choro e burocracia (estou falando dos meus pais, eu estava dormindo em um banco) as malas aparecem. Chegamos a Santiago de Compostela no dia 24 de dezembro às 10 da noite, o cansaço e a fome eram visíveis em cada um de nós.

O único restaurante aberto na cidade era chinês, o proprietário pouco falava castelhano, não que isso faça diferença, pois meu pai (que achou o lugar) tão pouco entendia o dialeto. Dessa forma nada convencional passamos a véspera de natal, partilhando nosso yakisoba com um inglês e um irlandês que apareceram no hotel (também em busca de comida).

Enfrentando uma forte chuva conhecemos a cidade no dia 25, para a nossa sorte a Catedral de Santiago estava aberta. Ao redor da Catedral existem inúmeras ruelas, cada uma abriga diversos restaurantes, cafés, lojas e pequenas fontes. É uma cidade cheia de história e lendas e é impossível não se apaixonar por toda aquela grandiosidade de detalhes.

Santiago de Compostela atraí milhares de peregrinos todos os anos, em ano santo esse número é imensamente maior. Existem vários trajetos de peregrinação, o menor deles dura cinco dias, mas no fim o destino é sempre o mesmo. Ao ver um peregrino dormindo apoiado em seu cajado dentro da Catedral, eu também quis um dia fazer esse caminho.


Continua ...